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16 de agosto de 2012

A águia e a galinha, uma metáfora da condição humana - Leonardo Boff


A cabeça pensa a partir de onde os pés pisam. Para compreender, é essencial conhecer o lugar social de quem olha. Vale dizer: como alguém vive, com quem convive, que experiências tem, em que trabalha, que desejos alimenta, como assume os dramas da vida e da morte e que esperanças o animam. Isso faz da compreensão sempre uma interpretação."Era uma vez um camponês que foi à floresta vizinha apanhar um pássaro para mantê-lo cativo em sua casa. Conseguiu pegar um filhote de águia. Colocou-o no galinheiro junto com as galinhas. Comia milho e ração própria para galinhas. Embora a águia fosse o rei/rainha de todos os pássaros.Depois de cinco anos, este homem recebeu em sua casa a visita de um naturalista. Enquanto passeavam pelo jardim, disse o naturalista:- Esse pássaro aí não é galinha. É uma águia.- De fato - disse o camponês. É águia. Mas eu a criei como galinha. Ela não é mais uma águia. Transformou-se em galinha como as outras, apesar das asas de quase três metros de extensão.- Não - retrucou o naturalista. Ela é e será sempre uma águia. Pois tem um coração de águia. Este coração a fará um dia voar às alturas.- Não, não - insistiu o camponês. Ela virou galinha e jamais voará como águia.Então decidiram fazer uma prova. O naturalista tomou a águia, ergueu-a bem alto e desafiando-a disse:- Já que você de fato é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, então abra suas asas e voe!A águia pousou sobre o braço estendido do naturalista. Olhava distraidamente ao redor. Viu as galinhas lá embaixo, ciscando grãos. E pulou para junto delas.O camponês comentou:- Eu lhe disse, ela virou uma simples galinha!- Não - tornou a insistir o naturalista. Ela é uma águia. E uma águia serásempre uma águia. Vamos experimentar novamente amanhã.No dia seguinte, o naturalista subiu com a águia no teto da casa. Sussurrou- lhe:-Águia, já que você é uma águia, abra suas asas e voe!Mas quando a águia viu lá embaixo as galinhas, ciscando o chão, pulou e foi para junto delas.O camponês sorriu e voltou à carga:- Eu lhe havia dito, ela virou galinha!- Não - respondeu firmemente o naturalista. Ela é águia, possuirá sempre um coração de águia. Vamos experimentar ainda uma última vez. Amanhã a farei voar.No dia seguinte, o naturalista e o camponês levantaram bem cedo. Pegaram a águia, levaram-na para fora da cidade, longe das casas dos homens, no alto de uma montanha. O sol nascente dourava os picos das montanhas.O naturalista ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe:- Águia, já que você é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, abra suas asas e voe !A águia olhou ao redor. Tremia como se experimentasse nova vida. Mas não voou. Então o naturalista segurou-a firmemente, bem na direção do sol, para que seus olhos pudessem encher-se da claridade solar e da vastidão do horizonte.Nesse momento, ela abriu suas potentes asas, grasnou com o típico kau-kau das águias e ergueu-se, soberana, sobre si mesma. E começou a voar, a voar parao alto, a voar cada vez para mais alto. Voou... voou.. até confundir-se com o azul dofirmamento... "

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